Mas, antes, precisamos saber o que é unção...
Unção do Latim, unctione (ato ou efeito de ungir).
No sentido figurado, unção quer dizer:
sentimento de piedade;
doçura comovente na expressão;
tonalidade suave e comovente ao falar;
que suscita sentimentos compassivos ou piedosos.
(dicionário online PRIBERAM )
Vejamos parte por parte:
Sentimento de Piedade: é a pena dos males alheios, ou seja, compaixão.
Só tem compaixão quem tem amor, mas não esse amor banalizado, feito só de palavras. O amor compassivo é o verdadeiro amor cristão, amor que vem de Cristo, o amor capaz de dar a vida pelo próximo. É o amor repleto de atitudes concretas, e não apenas de palavras soltas ao vento... prova de amor maior não há, do que dar a vida pelo irmão...
Tenho uma canção cuja a letra diz o seguinte:
Ele nunca disse Eu te amo,
mas ninguém jamais me amou assim!
jogar palavras ao vento é muito fácil
o Amor real morreu por mim!
morreu por mim...
Amar é um verbo. Implica ação!
Só aprendemos a amar de verdade quando seguimos Aquele que nos amou primeiro!
Quem nunca foi amado, não conhece o que é o Amor! É preciso, antes de tudo, deixar-se ser amado por Deus, desfrutar desse amor. Sendo assim, vale a pena seguir a dica do Martín (grande profeta do nosso tempo): Filho, antes de músico!
O que significa ser Filho antes de músico? Literalmente, significa ser filho de Deus: amar ao Pai sobre todas as coisas, buscar fazer Sua vontade, ser fiel, buscar a Deus em primeiro lugar. Este amor filial fará brotar em nosso coração um outro significado da palavra piedade: devoção.
Sem esse amor filial, é impossível ter verdadeira devoção e o que se tem é um conjunto de regras. Todos sabem que a regra é fruto da lei e a lei é fruto da letra, a letra mata, o amor gera a vida (já dizia São Paulo em suas cartas). Sem devoção a fé é transformada em partidarismo, em luta sangrenta, intransigente e intolerante (o que nos faz lembrar do Oriente Médio e das nossas panelinhas).
Quem ama a Deus como Pai, traz no coração o doce sentimento de ser filho. Quem se sente filho de Deus, só consegue ver o próximo, como irmão.
Quem não é filho, não pode ser irmão!
O amor de Deus em nós, gera alegria, paz, felicidade...
O dito popular diz que a boca fala daquilo que o coração está cheio. Só quem tem o coração cheio de amor e de paz é que pode falar de amor e de paz! Um coração repleto de Deus se expressa naturalmente com unção. A unção flui pelas palavras, pelas pausas, pela entonação da voz, pelos gestos, pela postura, pelo olhar, pelas mãos que empunham o instrumento, pela voz que canta a canção!
Quem tem essa doçura comovente na expressão, ou seja, quem tem unção, suscita sentimento compassivos e piedosos, criando, assim, um ciclo de amor, um ciclo de unção. Sendo assim, podemos dizer que unção gera unção.
Isso não é nada fácil!
Requer luta, constância, fé, perseverança, prática, convivência com Deus, com os irmãos...
É o dia-a-dia da oração (aquela oração silenciosa em nosso quarto, onde só Deus nos escuta). A unção não nos pertence! Ela é presente de Deus, uma ferramenta necessária para realizar nosso trabalho bem feito! Ela surge segundo o coração de Deus e a necessidade do povo que vamos evangelizar. A nós, cabe a busca constante do Amor Real e a abertura plena do coração! A nós, cabe a graça de sermos verdadeiros instrumentos na mão de Deus! E para isso, temos que nos doar por inteiro a esse Deus, oferecendo-nos plenamente.
Por acaso sua guitarra questiona o acorde que você quer usar?
Seu teclado reclama do timbre que você escolheu?
Sua batera exige este ou aquele paradiddle?
- O servo não é maior do que o Senhor!
Para terminar esta parte, partilho com vocês um parábola que aprendi com meu irmão, Martín:
Havia um país muito culto, que realizava uma vez por ano, um grande festival de poesias. Os maiores poetas do mundo se reuniam para o evento.
Certa vez, os organizadores do festival decidiram realizar algo inusitado: o desafio entre o maior poeta de todos os tempos e um simples camponês daquelas bandas.
O grande poeta subiu ao palco, com ar culto e aristocrático e, usando de todo o seu conhecimento e técnica da oratória (a arte de falar em público), recitou gravemente o Salmo 22: O Senhor é o meu pastor... Quando terminou de recitar os versos do Salmo, o público o aplaudiu por cerca de quinze minutos ininterruptos.
Os organizadores, então, chamaram o humilde camponês que todo envergonhado disse que iria recitar o mesmo Salmo. Foi um diz-que diz-que geral na platéia e os organizadores tiveram pena do pobre camponês, pois certamente ele jamais conseguiria superar a récita do grande poeta.
Mas, o humilde camponês, tirou o chapéu, olhou para o céu, e depois deixou seus olhos passearem pelos campos ao longe e iniciou sua oração: O Senhor é Meu Pastor... não me falta coisa alguma...
Quando terminou, ninguém aplaudiu. Ninguém se moveu. Todos estavam calados, chorando, compungidos e tocados com aquela oração.
O poeta ficou inquieto e começou a indagar: meu amigo, donde és tu? Quem foi teu mestre de oratória? Onde aprendeste tal técnica? ao que o humilde camponês respondeu: meu amigo, sou um simples trabalhador do campo, iletrado, a nossa diferença é que tu conheces o Salmo do Pastor e eu conheço o Pastor do Salmo!
Que Deus nos conceda a graça de conhece-lo! E conhecendo, possamos amá-lo e amando, possamos partilhar esse amor com todos que cruzarem nosso caminho!
Abraço a todos!
Ah... e sobre a técnica? Bom... fica para uma próxima oportunidade! Por hora, sugiro apenas que estudem muito!
Ronaldo Novaes
"Filho antes de músico"
"Filho antes de músico"
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